Chico Buarque – Duas Vezes Escrava

“Indicação” nº 9 do dia:

Duas Vezes Escrava

A sorte, se presenteia
A todos doença e fome,
Para as mulheres capricha
Num privilégio sem nome.
Colhe miséria maior
E diz à coitada: tome.

É forma de escravidão
A infinita pobreza,
Mas duas vezes escrava
É a mulher com certeza,
Pois escrava de um escravo
Pode haver maior dureza?

Por isso aquela mocinha
Fez tudo para iludir
Aos outros e ao seu destino.
Mas rola não é tapir
E chega lá um momento
Da natureza explodir.
João vira joana: acontecem
Dessas coisas sem preceito.
No seu colo está joãozinho
Mamando leite de peito.

Pelo menos esse aqui
De ser homem tem direito

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Maysa – Bouquet de Izabel

“Indicação” nº 7 do dia:

Bouquet de Izabel

Casou Maria, com Zé casou
Jogou o bouquet
Solteirona Isabel pegou
Isabel
No seu quarto, sozinha
e distante da gente,
chorando
desfolha um bouquet

Isabel
Toda vez que uma amiga casava,
comprava um vestido
Se empoava pra ver
Se arranjava também casamento
Porque era um tormento
Viver sem ninguém
Mas o tempo passando esquecia
De dar-lhe algum dia
Um noivo também
E ela agora já sabe que a vida
Tornou-a esquecida
Por tudo e por quem

Isabel, diz num olhar esquisito
Num sorriso aflito :
– Pra que o bouquet, pra que ?
E nervosa ela desce o decote
E ajusta um saiote
Pra forma se ver
E ajeita o cabelo pra frente
Que a faz de repente
Rejuvenescer
E ao sair olha o quarto calado
Onde fica um passado
E pelo chão um bouquet

Acabou
Solidão
De Isabel