Carlos Lyra – Assim na Terra Como no céu

“Indicação” nº 14 do dia:

Assim Na Terra Como No Céu

Vigário: Ó proprietário venho lhe pedir
Pelo casal cuja mulher vai lhe servir
Faça uma concessão pro povo lhe aplaudir

Proprietário: Olha seu Vigário
Se ela quer ser a primeira eu posso ouvir
Nessa noite vão ser cinco
Vou lutar com mais afinco
Uma exceção eu posso até abrir

Vigário: Pelo contrário, eu peço por favor
Eles se amam e é por força desse amor
Lhe suplicam que dispense o ritual, senhor

Proprietário: Olha seu vigário
Rebeldia eu não posso admitir
Precedente é perigoso
Logo, logo todo o povo
Vai, assim, também querer pedir

Vigário: Mas proprietário, essa é uma lei vulgar
Talvez até isso pudesse se mudar
E assim o povo iria lhe homenagear

Proprietário: Ora seu vigário, abdicarias tu das tuas leis
Do direito de casar-nos
Batizar-nos, confessar-nos
Me responda, agora é sua a vez

Vigário: Isso é sagrado, não e tributo não
Não é dever imposto nem obrigação
Mas Deus oferece em troca a nossa salvação

Proprietário: Se Deus oferece o céu, aqui na terra eu ofereço o pão
Sou esposo, pai e amante
Todos tem a todo instante
Aqui na terra a minha proteção

Vigário: Pois bem, só mais uma observação
Excesso de poder derruba o cidadão
Arbitrário é o poder que do povo não sai
Sai não…

Proprietário: E deixou no ar uma ameaça. Audácia desse vigário! (falado)


Carlos Lyra – As Duas Flores

“Indicação” nº 10 do dia:

As Duas Flores

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas,
Talvez do mesmo arrebol
Vivendo no mesmo galho
Da mesma gota de orvalho
Do mesmo raio de sol

Unidas bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu
Como um casal de rolinhas
Como a tribo de andorinhas
Na tarde no frouxo véu

Unidas bem como os prantos
Que em parelhas descem tantos
Da profundeza do olhar
Como o suspiro e o desgosto
Como as covinhas do rosto
Como as estrelas do mar

Unidas ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver qual vive esta flor
Juntai as rosas da vida
Na rama verde e florida
Na verde rama do amor