Publicado em Música

Moreira da Silva – A Nega da Gafieira

“Indicação” nº 6 do dia:

A Nega da Gafieira

Em Cascadura, numa gafieira,
Tem uma nega que me admira
Até eu mesmo fico admirado
Pois, quando a jazz toca, a nega é quem me tira

(– Vamo dançá, Morengueira?)
(– O que é que há, minha nega? Segura aí, devagar!)

Seja choro ou samba de breque
A nega sai logo se sacudindo
Quanto termina a velha contradança
Eu estou com o corpo cansado e os ossos bulindo

Mas o culpado foi o seu Oscar
Que a enganou que ela sabia dançar
Pra se meter assim no meio de nosotros
Fazendo palhaçada e dando o que falar

Mas eu não estou aqui pra isso
Não vim ao baile para me cansar
Pois o meu corpo é muito franzino
E assim, dessa maneira, eu vou me acabar

Se eu gostasse de matar o meu corpo
Procuraria um batente pesado
Enfrentaria lá o cais do porto
Ou então uma pedreira, ou mesmo num roçado

E até mesmo a questão do namoro
Aconselhei-a a não pensar em asneira
Porque pra hoje eu tenho uma muito boa
Pr’ amanhã e pra depois está na geladeira

(Nega, pra lá, olha a rasteira. O nega, não te güento, essa tua axilose é de matar qualquer peruano).

Publicado em Música

Moreira da Silva – Os Intocáveis

“Indicação” nº 3 do dia:

Os Intocáveis

Narrador (introdução): “Os Intocáveis. Dramático filme
policial de Michael Gustav com o famoso detetive federal
Kid Morengueira, seu fiel ajudante Elliot Ness e sua linda
secretária Nee Pall View (*), e cujo cenário é a famosa
década de trinta, quando a Lei Seca tinha fechado todos
os bares e botecos.”

Há quatro meses, ninguém via uma bebida
Nenhum pau-d’água pela rua cambaleava
Ninguém cantava mais O Ébrio do Vicente Celestino
E nem uísque nacional se fabricava

Mas em Chicago um enterro ia passando
Com muitos carros e coroas, desfilando entre orações
São tantos carros que a polícia desconfia
E os federais começam as investigações.

Narrador: “Eram exatamente 12h45 quando soaram os
alarmes da Penitenciária de Nova Iorque e o chefe de
polícia mandou oito federais para Chicago.”

Kid Moreira vai às casas funerárias
Fica sabendo que Al Capone encomendou o caixão
Falta saber qual é o nome do defunto
Que merecia tanta consideração

Vê quem morreu, olha na lista e nada consta
Ninguém morreu de ontem pra cá e os polícias federais
Cercam as ruas de Chicago e o Morengueira proclama:

– Ô, Al Capone, isto assim já é demais!
Vou dar-lhe um banho de metralha, desta não escaparás. Eu vou botar todo esse bando na prisão de Alcatraz.

Narrador: “Eram precisamente 17h43 quando os federais
descobriram toda a trama criminosa do mais espetacular
contrabando de bebidas. Oito mil garrafas de uísque
estavam no meio das coroas. Kid Morengueira mandou
então que os homens de Elliot Ness atirassem sobre o
cortejo e acertassem em cheio no defunto.”

No tiroteio, os bandidos desertaram
E, solitário, sobre um poste o carro fúnebre bateu
E quando um tiro de metralha fez um rombo no caixão
O contrabando pelas ruas escorreu.

(Só tinha uísque no caixão, mas o defunto não bebeu.)

Enquanto o líquido jorrava, a polícia já cercava
O esconderijo de Al Capone e sua grei
Assim termina Os Intocáveis desta noite
Com a vitória da Justiça e da Lei.

Humphrey Bogart e George Raft eu mesmo encarcerei
Só tenho pena das garrafas que na rua eu quebrei
Volte na próxima semana que outro filme eu contarei!